Créditos da foto: Yahoo
Madrugada de terça-feira, 24 de setembro... ouço muitas sirenes próximo a minha casa, logo penso em um acidente grave, devido ao números de viaturas... 05:30 hrs da manhã de quarta-feira, recebo uma ligação... confesso que ligações nesse horário nunca são de bom agouro, ao menos não prá mim... minha amiga me ligou, informando do sinistro em um armazém graneleiro que nas imediações do Morro da Cruz... ela diz que a mercadoria estocada é tóxica e que estavam todos em alerta...
Tento voltar a dormir, mais o sono fica perturbado... procuro manter a calma, faço algumas ligações, recebo outras tantas... saímos de casa por volta das 10:30 hrs, quando a fumaça estava já tomando conta da rua... cobri o rosto das meninas com uma toalha molhada, peguei uma troca de roupa para cada, dois pacotes de bolacha e sai sem destino certo... é claro que tentamos não criar pânico, mais a medida que avançamos pela cidade, vendo-a totalmente deserta, comércio fechado salvo postos de gasolina, é praticamente impossível a adrenalina não ficar alta...
Com
o passar do tempo, fui obtendo mais informações sobre o sinistro...
soube que foi uma reação química do produto armazenado (nitrato de
amônia), que o Exército e a Defesa Civil fecharam a entrada da ilha, que
vários bairros foram obrigados a evacuação geral (neste caso o meu
também, já que minha casa é na base do Morro da Cruz)... e que não
tínhamos a menor ideia de quando isso tudo iria ser controlado...
Créditos da foto: Dieter Gross
Liguei para a minha amiga Carla - Retalho de Lua e expliquei a situação (nos conhecemos pessoalmente desde 2009)... imediatamente ela se dispôs a nos abrigar na casa dela... seguimos para lá e o trajeto que levaria em dias normais cerca de 00:40 min. a 01:00 hr., gastamos quase 05:00 hrs... o cansaço da estrada, a tensão de sair de casa do nada, sem a certeza de quando iríamos voltar, olhos ardendo e pulmão também, crianças angustiadas de ficarem tanto tempo dentro do carro, meio mundo ligando prá saber se estávamos bem (aqui quero agradecer a todos pela preocupação)...
Ficamos até domingo abrigadas na casa da Carla... as meninas adoraram, porque puderam brincar um monte com os filhos da Carla
também... fomos recebidas com muito carinho por todos, sentimos que
fomos acolhidas com muito amor, pelo o que sou muito grata mesmo! Estar
em uma situação como está, sozinha com duas crianças não é muito
simples... Além de toda a generosidade, recebemos bastante apoio das
amigas virtuais, o que me deixou muito feliz e com a sensação de solidão
um pouco mais afastada...
Créditos da foto: Mais COR por favor
Ao voltar prá casa, após o Exército e a Defesa Civil liberarem o ingresso em nossas casas, restou a limpeza prá fazer... toda a comida, água e roupas foram contaminadas pela fumaça tóxica... descartamos os alimentos (nessa parte me corta o coração), compramos água para cozinhar e beber e tivemos que lavar todas as roupas que há em casa... As peças que estavam prontas no atelier, para o bazar do dia 05 de outubro foram perdidas... costurei como senão houvesse o amanhã, já que não teria como levar mercadorias com cheiro de fumaça, ainda mais fumaça tóxica...
Choveu a semana toda depois do sinistro... era como se os céus lamentassem junto com os moradores da ilha, toda essa tragédia que assolou este pequeno pedaço do paraíso... graças a Deus não houveram mortos, mais muitas pessoas foram intoxicadas... o préstimo do Corpo de Bombeiros Voluntários da cidade foi ímpar! Um verdadeiro trabalho incansável, em conjunto com bombeiros de mais 08 cidades vizinhas e algumas esferas governamentais...
E mais uma vez, pude observar a brevidade da vida e a impermanência das coisas... em situações como está, conseguimos extrair muitas lições e ensinamentos... ao mesmo tempo, podemos ser instrumentos para que outros possam exercer a generosidade e a caridade... agora a vida segue, tentando se ajeitar da maneira mais segura e calma possível...